O “truque” não é recente. Há vários anos que se defende, nas redes sociais, que lavar a cara com água do mar ajuda a tratar a acne, porque seca as borbulhas. 

A tendência continua a crescer no TikTok, onde vários utilizadores mostram a evolução que notam na pele após aplicarem água salgada na cara. Mas existe evidência científica de que lavar a cara com a água do mar trata a acne? Este gesto tem algum benefício para a pele?

É verdade que a água do mar é eficaz a tratar e a secar borbulhas de acne? 

“Não há qualquer evidência científica de relevo que sustente o benefício da aplicação de água do mar no tratamento da acne, nem sequer como complemento”, adianta Alberto Mota, dermatologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), em declarações ao Viral.

Alberto Mota sugere que este conceito poderá ter viralizado nas redes sociais “por uma miríade de razões”, tais como o suposto “benefício dos minerais que esta água contém”. 

O dermatologista explica que, “por ser uma água hipertónica, devido ao elevado teor salino, pode-se especular sobre potenciais efeitos antibacterianos e secantes” da água do mar – já que a pele com acne é, regra geral, oleosa.

Além disso, há quem considere que esta técnica até é “esfoliante”, proporcionando, supostamente, “um desentupimento dos poros”. Contudo, a verdade é que “nenhum destes efeitos foi claramente demonstrado”, frisa o professor da FMUP.

De facto, “há atividade antibacteriana de químicos extraídos de sargaços marinhos, que foi estudada in vitro e os mesmos incorporados em cosméticos”. Mas, refere, “está por demonstrar o seu real efeito antiacne”.

O especialista aponta que os benefícios habitualmente atribuídos ao contacto da pele com a água do mar podem, na verdade, estar relacionados com outro fator forte das idas à praia: o sol. Isto porque a “exposição solar e os raios ultravioletas podem ter algum efeito anti-inflamatório nas lesões de acne”. No entanto, sublinha, “este efeito pode ser anulado pelo aumento da seborreia [produção excessiva de sebo/oleosidade na pele]”.

Aliás, acrescenta Alberto Mota, “há mesmo alguns tipos de acne que agravam ou são induzidos em ambientes tropicais”.

Por outro lado, Alberto Mota considera que “a aplicação de água do mar na pele pode ser altamente contraproducente, devido aos efeitos irritativos do salitre e à potencial contaminação com agentes patogénicos e químicos que podem causar infeções na pele e noutros órgãos (como gastroenterite e hepatite)”. 

Para mais, “se os químicos contaminantes forem, por exemplo, do grupo dos hidrocarbonetos, o que no mar não é improvável, pode haver agravamento marcado da acne”, alerta o médico.

Concluindo, não está provado que a aplicação de água do mar seque as borbulhas ou seja eficaz no tratamento da acne.

Qual a importância de tratar a acne de forma eficaz?

Na visão do especialista, apesar da “aparente simplicidade aos olhos de alguns, devido à sua elevada prevalência na adolescência”, de facto, “a acne é complexa e envolve fatores hormonais, sebáceos, epiteliais e bacterianos, entre outros”.

Inclusive, para Alberto Mota, é preciso ter cuidado, porque “esta patologia pode confundir-se com erupções de aparência similar causadas por infeções, doenças sistémicas, incluindo as de caráter hormonal, genéticas e até exposição a tóxicos e medicamentos”.

Devido à complexidade desta condição de pele, é necessária “uma abordagem terapêutica, multifatorial, nomeadamente com agentes antibacterianos, antisseborreicos, anti-inflamatórios e antiproliferativos, de aplicação tópica ou de uso sistémico”, sustenta.

Além disso, o tratamento deve ser feito “de forma seletiva” e, por vezes, “combinada e prolongada”, através de práticas “cuja eficácia e segurança tenham sido cientificamente demonstradas”.

Para mais, segundo o professor da FMUP, “o uso de alguns cosméticos pode complementar o tratamento, desde que comprovadamente não agravem a acne”. Por outro lado, “uma alimentação equilibrada” também será benéfica para o tratamento.

Alberto Mota considera importante “não esquecer que a acne, quando significativa, é uma doença inflamatória e crónica cujas consequências cicatriciais poderão ser difíceis de tratar, se não forem, entretanto, prevenidas pelo tratamento adequado”.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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